20 de julho de 2016

Um casamento de sonho

(Imagem retirada da Internet)

No outro dia, enquanto ia para casa de comboio, um senhor contou-me uma história que mexeu com o meu estado psicológico e que, certamente, não será indiferente a ninguém.

O velhote contava uma história acerca de uma menina de pouco mais de doze anos que iria casar com um homem com idade para ser seu avô. Era um casamento de luxo, um casamento de sonho que qualquer mulher desejaria ter, não um casamento que uma menina desejasse ter. Enquanto que a princesinha vivia ainda no mundo da inocência, sonhava com princesas e príncipes, fazia desenhos e pintava-os com as cores do arco-íris, o homem tratava de negócios e vivia no mundo dos adultos, que não é compatível com uma criança simples e pura. 
No dia do casamento, numa casa que mais parecia um castelo, virada para um rio límpido, com vales e montanhas em seu redor, que se assemelhava a uma imagem de um conto de fadas, e que poderia ser um sítio perfeito para a pequena fadinha brincar, seria o sítio mais triste da sua vida. Ela era a única menina num quarto cheio de adultos stressados, experimentar o vestido, maquilhagem, preparativos, cabelo... e ela que só queria ir lá para fora brincar com as borboletas, correr um bocadinho e sorrir. Na verdade, ela, sendo a mais pequenina, era quem iria resolver todos os problemas financeiros da sua família. Se é suposto? Não, é suposto ela crescer e ter liberdade para tomar decisões e ser feliz, como qualquer outra criança.
Tudo pronto, a música toca e ela avança com passos lentos em direção ao altar; de um lado vê a sua mãe, com um papel no rosto, cheia de lágrimas que lhe correm pela face; do outro lado vê o seu irmão mais novo, com um sorriso que cada vez mais se desvanece e que lhe vai fazendo adeus; olha para o seu pai e este mantém uma postura rígida.

A voz do velhote, à medida que contava a história, ia-se alterando…
O homem tirou-lhe o véu e deu-se toda a cerimónia sem que ela deitasse uma única lágrima… Não houve qualquer toque a não ser quando trocaram de alianças.

Mais tarde, durante as fotos e todos aqueles momentos que devem ser, supostamente, memoráveis, o homem agarra-a no ombro para que se aproximem, aí sim, ela estremece e não evita as lágrimas. Fotos com lágrimas de tristeza pelo simples toque de alguém? Não…por um toque de um estranho que ela nem sabe quem é, lágrimas de dor por não poder estar agarrada à sua mãe, lágrimas de uma menina que só quer o seu peluche favorito, lágrimas de uma pequenina que só quer comer um gelado, ir ao parque e brincar com as bonecas. Lágrimas de uma menina que não tem culpa do mundo onde vive, dos problemas da sua família…, mas deverá ser ela a carregar todo o fardo dos erros dos seus pais?

No fim, quando estava quase a chegar à estação em que deveria sair, perguntei ao senhor por que é que me contou essa história, e se era real, ao que ele me respondeu:
-Todas as Histórias são reais, basta acreditares. Na verdade, há muitas histórias como esta e talvez muito piores, contei-te esta simplesmente porque estas histórias devem ser partilhadas e não mantidas em segredo. Já pensaste que, se muitas pessoas souberem disto, talvez consigamos evitar o sofrimento de mais crianças. Podes pensar que não és tu que mudas o mundo, mas basta um peso a mais de um lado da balança para que ela se desequilibre, certo? Sê esse peso e, de certeza, que mudamos o mundo!

…E o velho saiu porta fora e, claro, deixou-me a pensar nisso: e se realmente conseguirmos mudar a forma de pensar das pessoas? Basta acreditar…


Carolina Figueiras

4 comentários:

  1. Um texto que diz muito sobre muitos países atrasados mentalmente que fazem casamentos mesmo antes da criança nascer.Partilhar este texto seria um excelente ideia para poder haver mais ação de conscientização sobre um problema mundial.

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  2. que triste realidade...

    Fazes muito bem em partilhar atravéz da tua escrita este tipo de histórias pois a sua mensagem é suuuper importante!

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    1. É mesmo o que tenho tentado fazer, fico feliz que gostem e especialmente que pensem no assunto!

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