17 de agosto de 2017

Cabeçudinhos


(Imagem retirada da Internet)

O Despertador tocou, Trrrrrrrrrrrrrrrrrmm, seis da manhã, hora de levantar. Estava muito ensonado, vesti-me, calcei-me, ainda meio a dormir, fui buscar o Stress, que ladrava todo descontrolado, pois precisava de fazer as suas necessidades fisiológicas. Espreitei pela janela, vi que estava a chuviscar, as plantas estavam cobertas de orvalho, a noite estava muito escura e não havia luar. Vesti o impermeável verde do meu pai para ir à rua, ficava-me muito grande, mas era aconchegante.

Finalmente saímos de casa, mas o cão não se acalmava…Como ainda era noite levei a lanterna e fomos para o pinhal. O Stress conhecia bem o local. Era a zona mais próxima e apropriada para as suas necessidades. A chuva era miudinha, o frio parecia que me feria os ossos de tal forma que nem podia tirar o capuz, parecia um monge. Eu apenas queria que o Stress fosse rápido para voltar rapidamente para casa, precisava de um bom banho quente.

Nesse preciso momento, o inesperado aconteceu: ouvi gritos atrás de mim, vi um vulto a vir na minha direção; tentei focar com a lanterna para ver o que se estava a passar. Nada via, apenas ouvia o som a aproximar-se a passos largos e quando dei por mim tinha um cabeçudo à minha frente, pequeno, verde com de braços esticados para cima. Fiquei cheio de medo, pois se ele gritava daquela forma era porque tinha medo de algo que o perseguia… Inconscientemente fiz o mesmo, comecei a gritar e a correr (o medo tem destas coisas), nem sabia do que corria, nem porque gritava. Bem…, para quem não está a ver a cena, apenas vos digo que eram dois malucos de verde, a correr um atrás do outro, a gritar de braços no ar!!!!

Nesse mesmo instante, senti uns passos fortes e pesados, nem olhei para trás, continuei a correr, mas a coisa aproximou-se sem dificuldade, agarrou-me e prendeu-me entre os seus braços. Com medo calei-me, o cabeçudinho que corria um pouco mais adiante também se calou. O gigantão começou a correr comigo, eu tentava soltar-me, mas ele era forte e veloz, apertava-me tanto que me impedia de tirar o capuz para ver o que se passava à minha volta. Só percebi que aquela coisa entrou em algo porque depois deixou de fazer frio e de repente algo girou como um carrocel, movendo-se muito rápido. Foi tudo o que eu senti, ainda apertado, pelo… não sei o quê!

Mais tarde, fui colocado no chão, olhei para cima e dei um grito seguido de outro do cabeçudo gigante (o cabeçudo era igual ao outro, mas era gigante e igualmente verde, pareciam gémeos). Então percebi que como eu estava com o blusão do meu pai, o cabeçudo gigante confundira-me com o cabeçudinho.

Enquanto mergulhava nos meus pensamentos, abriram-se portas diante de mim, olhei e vi uma sala cheia de cabeçudos verdes. Ouvi apenas um gritinho, pensei: tantos cabeçudinhos e todos verdes… Ninguém falou e eu não parava de fazer perguntas. “Por que estou aqui?”, “Onde está o meu cão?”, “ Onde estão os meus pais?” Eles também não falavam entre si, apenas tocavam no ombro direito. Entretanto, levaram-me para uma sala onde estavam muitos cabeçudinhos pequenos e um deles agarrou a minha mão, olhou para mim e uma e luz forte saiu dos seus olhos e incidiu nos meus, depois desmaiei. 

Mais tarde, quando acordei, estava num mundo diferente, tudo era transparente, não havia nada opaco. Da casa onde eu estava, que era flutuante, via-se tudo o que se passava na cidade, por todo o lado se movimentavam cabeçudos verdes. “Que coisa fixe!”- pensei eu. Aviões de vidro, plástico, acrílico, ou sei lá o quê, a voarem pelo ar com um ou dois ocupantes no máximo, eram semelhantes aos ovos “kinder”, mas gigantes, sem expelirem qualquer tipo de poluição  eram simples e práticos. Não havia policiamento, porque todos sabiam bem o que tinham para fazer. Não havia crimes, lutas, ou guerras. Todos se respeitavam. Tudo estava calmo e em harmonia. Sem som, nada se ouvia, mas eles sabem gritar, pensei eu, será que os gritos são apenas utilizados em momentos de medo, pânico e terror?!

Apareceu mais um cabeçudo a interromper os meus pensamentos (ainda não percebi se existem diferenças entre cabeçudos homem e cabeçudos mulher, são todos iguais!). Entrou na sala e aproximou-se de mim, tive um pouco de medo, mas não me afastei. Colocou a sua mão direita no meu ombro direito e, assim, comunicou comigo; cumprimentou-me e manifestou a sua disponibilidade para lhe pedir tudo o que eu necessitasse, disse-me ainda que iria ser o meu guia, que me iria mostrar a cidade e explicar tudo aquilo que eu tivesse dúvidas. Eu, para lhe dar resposta, fiz o mesmo, pois percebi que era desta forma que comunicavam, fantástico não é?, disse-lhe que queria voltar para casa, disse-lhe também que queria perceber tudo o que se tinha passado e porquê. O cabeçudo pediu-me para ter calma e disse-me que estava tudo a ser tratado e que em breve iria ser chamado para solucionar o problema e voltar para casa.

Assim, convidou-me para conhecer a cidade, achei melhor aceitar e lá fomos nós. O professor cabeçudo, como eu o tinha identificado anteriormente, mostrou-me a civilização.
 
Andámos nos meios de transporte, que eram todos transparentes, faziam-me um pouco de confusão na verdade, porque não havia muita privacidade, mas os cabeçudinhos pareciam viver muito bem com isso, eram todos como uma grande família que se ajudavam entre si e que viviam em harmonia. Os transportes citadinos, que eram os mais lentos, não eram como os aviões, de apenas um ou dois lugares, adequava-se dependendo do número de pessoas, alteravam a sua forma consoante as necessidades, era como magia, (muito fixe!), se era preciso um transporte para dez pessoas os lugares aumentavam para dez, se era necessário para vinte, aumentava para vinte e assim sucessivamente, assim, havia sempre lugares para todos. São como os transportes públicos terrestres, mas muito melhor, porque desta forma ninguém fica de fora!  Não havia um cabeçudinho especializado para conduzir, todos sabem conduzir qualquer meio de transporte, o que torna tudo mais fácil. Os seus meios de transporte não são poluentes, e assim o ar é sempre puro e respirável. Os aviões são como os nossos carros, onde cabem poucos cabeçudos e deslocam-se no céu, mas não há  o problema do tráfego nem das filas, o meu pai ia adorar porque está sempre a refilar que demora horas nas filas! Começo a gostar deste planeta! Depois existiam outros meios bem mais rápidos, para deslocações maiores entre as urbes, como os nossos comboios, por exemplo… e, por fim, havia os interplanetários onde eu tinha tido oportunidade de viajar, não senti nada, mas quando contar lá em casa tenho a certeza que todos irão querer experimentar! No planeta Terra ainda não temos desses meios de transportes, mas era muito bom para podermos explorar mais as galáxias. Foi então que percebi, que estava num planeta de um outro sistema solar, a sua fonte de energia era a água do mar e dos rios e o calor vinha do seu astro principal. Agora faz sentido, era através dos seus recursos não poluentes que os seus meios de transporte se deslocavam. Era tudo muito parecido com o planeta Terra, mas a forma como utilizavam a sua fonte de energia é que era diferente, acho que os humanos deviam pensar nesta alternativa para tornar o mundo menos poluente e um lugar melhor. O seu corpo era também composto por água pura; esta água dava-lhes capacidades e poderes muito grandes, quase como se fosse magia, eram muito especiais. Pelo que vi, eram um povo muito desenvolvido e com grande tecnologia, utilizavam a mente apenas para o bem onde a maldade não tinha lugar, todos ajudavam o próximo. Solucionavam qualquer tipo de problema com inteligência e nunca prejudicavam os seus semelhantes.

Tal como nós, vivem em família, mas não têm sexo, juntam-se dois que se amam e ambos podem ter filhos. É tão simples! Fiquei muito feliz, assim, nunca existiria, tal como na terra, qualquer tipo de discriminação ou preconceito, são todos vistos como iguais, não haveria racismo porque não à diferença na cor da pele, não haveria problemas de género porque não –há  diferença entre homem e mulher, todos tem os mesmo direitos, e muito menos haveria problemas ao nível da homossexualidade porque basta existir amor para que possam ser felizes! Espero que um dia os humanos cheguem também a estas conclusões, que o que importa é ser feliz independentemente do género, cor, orientação sexual, mas os adultos são muito mais complicados do que eu, que tenho apenas dez anos, e não entendem estas coisas, preferem julgar e não se sabem respeitar, e é por isso, que os cabeçudinhos são muito mais evoluídos! 

Descobri também, que a sua aparecia física apenas se altera até uma determinada idade, nos primeiros anos de vida e na juventude quando ainda estão a crescer, depois permanecem sempre com o mesmo aspeto. Mais uma coisa maravilhosa, quem me dera!!!! Assim não havia problemas relacionados com a velhice, podíamos ter uma vida feliz para sempre! Podem viver em família ou não, e rapidamente se tornam independentes. Como o seu aspeto físico não demonstra a idade que têm, decidi perguntar ao cabeçudinho professor que idade é que ele tinha, ele colocou-me a mão no ombro direto e disse-me que tinha quinhentos e trinta e oito anos, e eu fiquei aterrorizado, como seria possível? A minha expressão deve tê-lo assustado porque me perguntou o que se passava. Coloquei a minha mão direta no seu ombro e expliquei-lhe que na Terra é muito raro as pessoas viverem até aos cem anos… O cabeçudinho olhou para mim e explicou-me que eles ainda não sabiam muito bem se os anos do seu planeta correspondiam aos nossos, mas que em média os cabeçudinhos vivem até aos mil anos, logo é como se o cabeçudinho tivesse cinquenta anos terrestres, é muito sábio.

A parte realmente parecida connosco é que também têm várias expressões faciais, assim facilmente identificamos o que sentem, também sorriem, por exemplo, só que sem emitir qualquer tipo de som, é engraçado e estranho ao mesmo tempo!
Tinham escolas como nós; contudo não existia a figura do professor, os conhecimentos vinham das famílias e, em grupos de trabalho, esses conhecimentos iam passando de geração em geração. Quando os filhos de um casal percebiam que algumas famílias não tinham conhecimentos que eram importantes, estes iam para a casa dessas mesmas famílias para partilhar esses conhecimentos. Todos se interessavam muito sobre o passado do seu planeta e também com o futuro. O seu principal objetivo é tornar tudo o mais rentável e fácil possível. Por isso, a ocupação deles era inovar e melhorar o planta em que vivem, ter melhor tecnologia e ser o mais avançado possível. Não existiam profissões, por exemplo médicos, logo não havia doenças, mas sim cabeçudinhos melhores em determinadas áreas do que outros, estes ajudavam-se entre si e vivem em plena harmonia. O seu objetivo era aumentar o conhecimento e descobrir formas de proporcionar o bem-estar às famílias, pelo que trabalhavam em grupos. Mais uma vez estou surpreendido, sinto que  no Planeta Terra estamos muito atrasados em relação ao planeta dos cabeçudinhos… sem profissões ? Sem médicos? Sem doenças? Este sim era um mundo onde eu gostava de viver, sem hospitais, sem problemas de saúde…

Quis saber também acerca dos animais, pois ainda não tinha visto nenhum, o cabeçudo guia (achei melhor não o chamar de professor, pois eles não têm este conceito) levou-me à cidade dos animais, onde cada um vivia no seu habitat. Ali, tal como ele, os animais entendem-se e vivem em harmonia, são autossuficientes, a sua alimentação, altamente nutritiva, era como a dos cabeçudos, a água. Estes podiam visitar os animais sempre que quisessem, podiam passar um dia ou umas férias com eles. Raramente os animais iam à cidade dos cabeçudos, mas por opção própria , já que preferem o seu habitat. Mais um vez, brilhante, absolutamente brilhante, assim, todos vivem em paz, os animais, aqui não são utilizados para diversão como nas touradas, nos circos, nos jardins zoológicos ou nas caçadas, não são mal tratados nem abandonados e muito menos usados como forma de distração…fico muito triste pela verdadeira realidade do planeta onde vivo, onde muitos animais sofrem. Melhor ainda, é o facto de os cabeçudinhos não necessitarem de matar qualquer tipo de animal para comer/subsistir. Este espaço é muito semelhante ao pinhal onde eu e o meu amado Stress costumamos ir. Por momentos, lembrei-me! O Stress, como estará ele? Terá feito amizade com um cabeçudinho?

Observei também os rios, o mar e os animais aquáticos. Tudo era limpo, não havia poluição, por isso, tentei saber mais sobre o assunto. A energia consumida era a água e o calor do astro, e tudo era feito com esta energia, pelo que a poluição é mínima, uma vez que tudo é biodegradável. Também tinham transportes aquáticos e facilmente visitavam os animais marinhos. Nesse aspeto, é muito bom que os seus submarinos e barcos sejam transparentes, que eram como aquelas bolas de sabão que eu tanto gosto fazer, só que estas eram uma espécie de bolas de sabão gigantes que nunca rebentavam. Os cabeçudinhos adoram ir até ao fundo do mar e já descobriram muitas coisas sobre os mares e os animais que neles habitam e tal como com os outros animais dão-se muito bem entre si. Vi algumas especiais de animais que conhecia e outras que não conhecia, tanto terrestres como aquáticos, por isso, decidi perguntar algumas coisas   sobre alguns animais. O que mais me espantou saber, foi o facto dos cabeçudinhos conseguirem, por exemplo comunicar com os golfinhos…eu sei que os golfinhos são muito inteligentes, mas nunca pensei que fosse possível comunicar com eles… segundo entendi os cabeçudinhos tem ido à terra para aprender sobre o ser humano, a forma como age e se comporta e tudo o que há para saber sobre nós. Segundo o cabeçudinho, não comunicamos com os golfinhos porque não estamos preparados para tal, não somos puros o suficiente. Enquanto a maldade se sobrepuser à bondade não conseguiremos viver em plena harmonia, nem entre nós nem entre outras espécies. Para além disso vi uma sereia, é verdade, uma sereia…fiquei de atónito, são seres lindos, com uma cauda de peixe e uma espécie de corpo humano, mas também não tem sexo, são verdadeiramente lindas. Também comunicam com os cabeçudinhos…que sortudos! O cabeçudinho também me explicou que no meu planta também à sereias, que surpresa!.. quando um cabeçudinho foi investigar os nossos mares rapidamente conheceu sereias porque ambos são seres puros… As sereias não comunicam com os seres humanos porque para além de não sermos suficientemente puros, rapidamente iam ser objetos de estudo, investigadas, mal tratadas e muitas experiências se iam seguir. Infelizmente acho que o melhor é mesmo elas nunca se mostrarem, pelo menos por agora… 

Quis também saber sobre a política, a religião e o dinheiro. Entendi que não existia nada disto, o líder mudava num período de tempo mais ou menos aproximado a um ano no seu planeta e podia ser qualquer um. Ótimo, não havia corrupção, nem injustiças, o meu pai passa vida a lamuriar-se com esse assunto, eu bem digo que ele ia adorar viver aqui, no mundo justo. É fantástico, não haveria todos aqueles dramas que passam na televisão, não haveria aqueles debates chatos de políticos que tenho de ver em vez de estar a ver os meus desenhos animados favoritos, porque os meus pais não me deixam mudar de canal e muito menos haveriam guerras causados pela política. Em termos religiosos, o cabeçudo nem percebeu bem do que eu estava a falar. Disse apenas que as coisas que mais gostavam era do planeta, da água, do astro e deles próprios. Já nem tenho palavras para descrever este lugar, se fosse assim no planeta Terra ninguém tinha de morrer como tantos morrem pela religião, se fosse assim no meu planeta não haveria terrorismo, dor, mágoa, mortes, refugiados ou sofrimento, se fosse assim no meu planeta tudo seria diferente, não estariam neste momentos milhares de pessoas a morrer à fome em Africa ou a morrer no Afeganistão. Triste realidade… Quanto ao dinheiro, não havia necessidade, pois tudo era de todos, bastava querer que o necessário viria até eles, e com isto não há qualquer tipo de pobreza todos tem aquilo que precisam sempre! 

Perguntei ainda se no passado existiu algum tipo de guerras, ou  criminalidade de alguma espécie, como eu esperava é obvio que não, armas então, o cabeçudinho nunca tinha ouvido falar. Bem, nisso posso dizer que somos mais avançados, mas não sei se é bom ou mau…

    Relativamente às estações do ano, são as mesmas quatro que nós temos, inverno, primavera, verão e outono, adoram qualquer uma delas. Têm chuva e sol, claro, e gostam de ambas, somos muito semelhantes nisso. Catástrofes naturais não existem, como tratam tão bem do seu planeta não há qualquer tipo de poluição nem problemas ambientas nada de mal lhes acontece. As catástrofes naturais só existem porque são como uma resposta do nosso planeta a todos os erros/atitudes que temos para com o ambiente, são alertas para que mudemos a nossos hábitos, mas penso que nós ainda não nos demos conta disso.

Não pude resistir a perguntar pela diversão, pelo lazer. Para nós o lazer prende-se, hoje em dia, com o telemóvel, o computador, os iPod, Tablet ou outros meios eletrónicos, e quase nem comunicamos uns com outros, eu ainda não tenho nada disso, ou pelo menos pouco posso usar, porque os meus pais preferem que esteja ao ar livre a brincar, mas bem vejo a minha irmã que está sempre agarrada ao seu telemóvel nas redes sociais. Pelo que percebi eles não têm nada disso, que bom, até fico feliz por eles, nada de Internet, nada de dependências, nada de nada, a minha irmã ia passar-se, se aqui vivesse. Acho que é uma questão de hábito… Têm vários desportos e adoram, o cabeçudinho diz que todos praticam desporto para se manterem em forma, bem, a mim parecem-me todos muito iguais a nível físico. Perguntei-lhe se sabia o que era futebol ou outros desportos comuns no meu planeta, sim, mais uma coisa em comum, têm vários desportos semelhantes mas nada lucram com eles, não é como no nosso planeta em que tudo é um meio para atingir um fim, em que tudo é impulsionado por interesses! Ele disse-me ainda que adoravam tudo o que tinha a ver com expressão artística: música, dança, representação, pintura, escrita. Mas como? - perguntei eu - se nada se ouve? E o som?! Nesse momento obtive a resposta mais importante de todas, tudo funcionava de uma forma vibratória e subtil. Eu não ouvia porque os meus sentidos não estavam preparados para isso, mas eles, os cabeçudos, ouvem e sentem a nossa vibração. Cada corpo emite um som, uma vibração, uma melodia conforme o nosso estado de espírito, assim como as árvores e os animais, o mar e os rios e tudo em conjunto faz uma linda melodia que eles captam, e reproduzem, criando grandiosos concertos. Fiquei impressionado e pensei no quanto gostaria de levar alguns destes conhecimentos para o meu amado planeta Terra.
    
Todo neste planeta é mágico!
    
Mais tarde, o cabeçudo captou uma mensagem e disse que nos aguardavam. Diante do “chefe”, foram-me pedidas novamente desculpas, e foi-me explicado que fui confundido com um cabeçudinho porque nesse dia eles estavam a fazer análises e investigações no meu planeta, disse-me ainda que a nave deles apenas poderia entrar na órbita da Terra no local onde entrei, isto é, no pinhal perto da minha casa, num dia de chuva, com orvalho e sem lua; logo, para isso, teríamos de aguardar que estas condições existissem, e todos sabíamos que poderia levar algum tempo. Comecei a ficar agitado, queria a minha mãe, o meu pai e o Stress. A emoção começou a apoderar-se de mim, pois sabia que todos estavam preocupados comigo.
   
Quando, de repente, começo a ouvir uns sons distorcidos, mas familiares, e começo a sentir uma lixa húmida na minha cara, dei um salto e abri os olhos. Vejo, então, o Stress em cima da minha cama a lamber-me a cara, e o meu pai do outro lado do quarto que gritava comigo e dizia: - Queres um cão, mas não sabes tratar dele e, ainda por cima, vais chegar atrasado à escola e os teus professores vão fazer queixa de ti por falta de pontualidade. Olhei para ele e pensei: 

-Escola, queixas, professores! Não! Não! Queda do governo, guerras, atentados, doenças, religião, poder, intolerância, maus tratos aos animais e discriminação e muito mais…
- Pai, deixa-me dormir!
Mas tive de voltar e abraçar o mundo real…, bem-vindo à vida no planeta Terra!

Depois de me vestir, tomar o pequeno almoço e ir passear com o Stress ao pinhal, (estava com esperanças de ver algum cabeçudinho, mas não apareceu nenhum), fui para a escola. Passei o dia todo a pensar nos cabeçudinhos e o quão maravilhoso seria se aquele mundo existisse e como eu gostava de lá viver. Estive muito distraído nas aulas até que algo que despertou o interesse, a minha professora de Português pediu a todos os meninos e meninas da minha turma, para escrever um pequeno texto de tema livre, foi o momento ideal para contar tudo sobre aquele lindo e encantador planeta. 

A professora gostou muito do meu texto, por isso pediu que o lesse em voz alta e no final disse que eu tinha muita criatividade! Os meus colegas até aplaudiram. Quando cheguei a casa, estava tão feliz com a reação de todos que decidi ler para os meus pais e para o Stress.
 Quando terminei, a minha mãe esboçava um sorriso, fez-me uma carícia na face e disse-me que era um lindo menino, com muita imaginação. Imaginação? eu ?...não estou a perceber, não estou nem a imaginar nem a inventar nada, isto é tudo verdade!
Noutra galáxia, noutro planeta, lá muito, muito, muito longe existem uns amiguinhos verdes, não acreditam?
Eles estão bem perto de nós e são nossos amigos, apenas querem ajudar-nos a respeitar a vida na terra, eles são muito especiais.
Se olharem bem à vossa volta, vão vê-los, não tenham receio, são fáceis de identificar, são verdes, pequeninos e muito cabeçudos!
Tenho a certeza que vocês vão conseguir vê-los e assim poderemos dar as mãos e tornarmo-nos os guardiões do nosso planeta azul, o que acham?!
Há coisas que só as crianças conseguem ver e fazer!
Essa será a nossa demanda, aceitam?
Os sonhos só são sonhos quando acreditarmos neles, agora entendo bem isso!


Carolina Figueiras

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