O Despertador tocou,
Trrrrrrrrrrrrrrrrrmm, seis da manhã, hora de levantar. Estava muito ensonado,
vesti-me, calcei-me, ainda meio a dormir, fui buscar o Stress, que ladrava todo
descontrolado, pois precisava de fazer as suas necessidades fisiológicas. Espreitei
pela janela, vi que estava a chuviscar, as plantas estavam cobertas de orvalho,
a noite estava muito escura e não havia luar. Vesti o impermeável verde do meu
pai para ir à rua, ficava-me muito grande, mas era aconchegante.
Finalmente saímos de casa, mas o cão não se
acalmava…Como ainda era noite levei a lanterna e fomos para o pinhal. O Stress
conhecia bem o local. Era a zona mais próxima e apropriada para as suas
necessidades. A chuva era miudinha, o frio parecia que me feria os ossos de tal forma que nem podia tirar o
capuz, parecia um monge. Eu apenas queria que o Stress fosse rápido para voltar
rapidamente para casa, precisava de um bom banho quente.
Nesse preciso momento, o inesperado
aconteceu: ouvi gritos atrás de mim, vi um vulto a vir na minha direção; tentei
focar com a lanterna para ver o que se estava a passar. Nada via, apenas ouvia
o som a aproximar-se a passos largos e quando dei por mim tinha um cabeçudo à
minha frente, pequeno, verde com de braços esticados para cima. Fiquei cheio de
medo, pois se ele gritava daquela forma era porque tinha medo de algo que o perseguia…
Inconscientemente fiz o mesmo, comecei a gritar e a correr (o medo tem destas
coisas), nem sabia do que corria, nem porque gritava. Bem…, para quem não está
a ver a cena, apenas vos digo que eram dois malucos de verde, a correr um atrás
do outro, a gritar de braços no ar!!!!
Nesse mesmo instante, senti uns passos
fortes e pesados, nem olhei para trás, continuei a correr, mas a coisa
aproximou-se sem dificuldade, agarrou-me e prendeu-me entre os seus braços. Com
medo calei-me, o cabeçudinho que corria um pouco mais adiante também se calou.
O gigantão começou a correr comigo, eu tentava soltar-me, mas ele era forte e
veloz, apertava-me tanto que me impedia de tirar o capuz para ver o que se
passava à minha volta. Só percebi que aquela coisa entrou em algo porque depois
deixou de fazer frio e de repente algo girou como um carrocel, movendo-se muito
rápido. Foi tudo o que eu senti, ainda apertado, pelo… não sei o quê!
Mais tarde, fui colocado no chão, olhei
para cima e dei um grito seguido de outro do cabeçudo gigante (o cabeçudo era
igual ao outro, mas era gigante e igualmente verde, pareciam gémeos). Então
percebi que como eu estava com o blusão do meu pai, o cabeçudo gigante confundira-me
com o cabeçudinho.
Enquanto mergulhava nos meus pensamentos,
abriram-se portas diante de mim, olhei e vi uma sala cheia de cabeçudos verdes.
Ouvi apenas um gritinho, pensei: tantos cabeçudinhos e todos verdes… Ninguém
falou e eu não parava de fazer perguntas. “Por que estou aqui?”, “Onde está o
meu cão?”, “ Onde estão os meus pais?” Eles também não falavam entre si, apenas
tocavam no ombro direito. Entretanto, levaram-me para uma sala onde estavam
muitos cabeçudinhos pequenos e um deles agarrou a minha mão, olhou para mim e
uma e luz forte saiu dos seus olhos e incidiu nos meus, depois desmaiei.
Mais tarde, quando acordei, estava num
mundo diferente, tudo era transparente, não havia nada opaco. Da casa onde eu
estava, que era flutuante, via-se tudo o que se passava na cidade, por todo o
lado se movimentavam cabeçudos verdes. “Que coisa fixe!”- pensei eu. Aviões de
vidro, plástico, acrílico, ou sei lá o quê, a voarem pelo ar com um ou dois
ocupantes no máximo, eram semelhantes aos ovos “kinder”, mas gigantes, sem expelirem qualquer tipo de poluição eram simples e práticos. Não havia
policiamento, porque todos sabiam bem o que tinham para fazer. Não havia
crimes, lutas, ou guerras. Todos se respeitavam. Tudo estava calmo e em
harmonia. Sem som, nada se ouvia, mas eles sabem gritar, pensei eu, será que os
gritos são apenas utilizados em momentos de medo, pânico e terror?!
Apareceu mais um cabeçudo a interromper os
meus pensamentos (ainda não percebi se existem diferenças entre cabeçudos homem
e cabeçudos mulher, são todos iguais!). Entrou na sala e aproximou-se de mim,
tive um pouco de medo, mas não me afastei. Colocou a sua mão direita no meu
ombro direito e, assim, comunicou comigo; cumprimentou-me e manifestou a sua
disponibilidade para lhe pedir tudo o que eu necessitasse, disse-me ainda que
iria ser o meu guia, que me iria mostrar a cidade e explicar tudo aquilo que eu
tivesse dúvidas. Eu, para lhe dar resposta, fiz o mesmo, pois percebi que era
desta forma que comunicavam, fantástico não é?, disse-lhe que queria voltar
para casa, disse-lhe também que queria perceber tudo o que se tinha passado e
porquê. O cabeçudo pediu-me para ter calma e disse-me que estava tudo a ser
tratado e que em breve iria ser chamado para solucionar o problema e voltar
para casa.
Assim, convidou-me para conhecer a cidade,
achei melhor aceitar e lá fomos nós. O professor cabeçudo, como eu o tinha
identificado anteriormente, mostrou-me a civilização.
Andámos
nos meios de transporte, que eram todos transparentes, faziam-me um pouco de
confusão na verdade, porque não havia muita privacidade, mas os cabeçudinhos
pareciam viver muito bem com isso, eram todos como uma grande família que se
ajudavam entre si e que viviam em harmonia. Os transportes citadinos, que eram
os mais lentos, não eram como os aviões, de apenas um ou dois lugares,
adequava-se dependendo do número de pessoas, alteravam a sua forma consoante as
necessidades, era como magia, (muito fixe!), se era preciso um transporte para
dez pessoas os lugares aumentavam para dez, se era necessário para vinte,
aumentava para vinte e assim sucessivamente, assim, havia sempre lugares para
todos. São como os transportes públicos terrestres, mas muito melhor, porque
desta forma ninguém fica de fora! Não havia
um cabeçudinho especializado para conduzir, todos sabem conduzir qualquer meio
de transporte, o que torna tudo mais fácil. Os seus meios de transporte não são
poluentes, e assim o ar é sempre puro e respirável. Os aviões são como os
nossos carros, onde cabem poucos cabeçudos e deslocam-se no céu, mas não há o problema do tráfego nem das filas, o meu pai
ia adorar porque está sempre a refilar que demora horas nas filas! Começo a
gostar deste planeta! Depois existiam outros meios bem mais rápidos, para deslocações
maiores entre as urbes, como os nossos comboios, por exemplo… e, por fim, havia
os interplanetários onde eu tinha tido oportunidade de viajar, não senti nada,
mas quando contar lá em casa tenho a certeza que todos irão querer
experimentar! No planeta Terra ainda não temos desses meios de transportes, mas
era muito bom para podermos explorar mais as galáxias. Foi então que percebi,
que estava num planeta de um outro sistema solar, a sua fonte de energia era a
água do mar e dos rios e o calor vinha do seu astro principal. Agora faz
sentido, era através dos seus recursos não poluentes que os seus meios de
transporte se deslocavam. Era tudo muito parecido com o planeta Terra, mas a
forma como utilizavam a sua fonte de energia é que era diferente, acho que os
humanos deviam pensar nesta alternativa para tornar o mundo menos poluente e um
lugar melhor. O seu corpo era também composto por água pura; esta água
dava-lhes capacidades e poderes muito grandes, quase como se fosse magia, eram
muito especiais. Pelo que vi, eram um povo muito desenvolvido e com grande
tecnologia, utilizavam a mente apenas para o bem onde a maldade não tinha
lugar, todos ajudavam o próximo. Solucionavam qualquer tipo de problema com
inteligência e nunca prejudicavam os seus semelhantes.
Tal como nós, vivem em família, mas não têm
sexo, juntam-se dois que se amam e ambos podem ter filhos. É tão simples!
Fiquei muito feliz, assim, nunca existiria, tal como na terra, qualquer tipo de
discriminação ou preconceito, são todos vistos como iguais, não haveria racismo
porque não à diferença na cor da pele, não haveria problemas de género porque
não –há diferença entre homem e mulher,
todos tem os mesmo direitos, e muito menos haveria problemas ao nível da homossexualidade
porque basta existir amor para que possam ser felizes! Espero que um dia os
humanos cheguem também a estas conclusões, que o que importa é ser feliz
independentemente do género, cor, orientação sexual, mas os adultos são muito
mais complicados do que eu, que tenho apenas dez anos, e não entendem estas
coisas, preferem julgar e não se sabem respeitar, e é por isso, que os
cabeçudinhos são muito mais evoluídos!
Descobri também, que a sua aparecia
física apenas se altera até uma determinada idade, nos primeiros anos de vida e
na juventude quando ainda estão a crescer, depois permanecem sempre com o mesmo
aspeto. Mais uma coisa maravilhosa, quem me dera!!!! Assim não havia problemas
relacionados com a velhice, podíamos ter uma vida feliz para sempre! Podem
viver em família ou não, e rapidamente se tornam independentes. Como o seu
aspeto físico não demonstra a idade que têm, decidi perguntar ao cabeçudinho
professor que idade é que ele tinha, ele colocou-me a mão no ombro direto e
disse-me que tinha quinhentos e trinta e oito anos, e eu fiquei aterrorizado,
como seria possível? A minha expressão deve tê-lo assustado porque me perguntou
o que se passava. Coloquei a minha mão direta no seu ombro e expliquei-lhe que
na Terra é muito raro as pessoas viverem até aos cem anos… O cabeçudinho olhou
para mim e explicou-me que eles ainda não sabiam muito bem se os anos do seu
planeta correspondiam aos nossos, mas que em média os cabeçudinhos vivem até
aos mil anos, logo é como se o cabeçudinho tivesse cinquenta anos terrestres, é
muito sábio.
A parte realmente parecida connosco é que
também têm várias expressões faciais, assim facilmente identificamos o que
sentem, também sorriem, por exemplo, só que sem emitir qualquer tipo de som, é
engraçado e estranho ao mesmo tempo!
Tinham escolas como nós; contudo não
existia a figura do professor, os conhecimentos vinham das famílias e, em
grupos de trabalho, esses conhecimentos iam passando de geração em geração.
Quando os filhos de um casal percebiam que algumas famílias não tinham conhecimentos
que eram importantes, estes iam para a casa dessas mesmas famílias para
partilhar esses conhecimentos. Todos se interessavam muito sobre o passado do
seu planeta e também com o futuro. O seu principal objetivo é tornar tudo o
mais rentável e fácil possível. Por isso, a ocupação deles era inovar e
melhorar o planta em que vivem, ter melhor tecnologia e ser o mais avançado
possível. Não existiam profissões, por exemplo médicos, logo não havia doenças,
mas sim cabeçudinhos melhores em determinadas áreas do que outros, estes
ajudavam-se entre si e vivem em plena harmonia. O seu objetivo era aumentar o
conhecimento e descobrir formas de proporcionar o bem-estar às famílias, pelo
que trabalhavam em grupos. Mais uma vez estou surpreendido, sinto que no Planeta Terra estamos muito atrasados em
relação ao planeta dos cabeçudinhos… sem profissões ? Sem médicos? Sem doenças?
Este sim era um mundo onde eu gostava de viver, sem hospitais, sem problemas de
saúde…
Quis saber também acerca dos animais, pois
ainda não tinha visto nenhum, o cabeçudo guia (achei melhor não o chamar de
professor, pois eles não têm este conceito) levou-me à cidade dos animais, onde
cada um vivia no seu habitat. Ali, tal como ele, os animais entendem-se e vivem
em harmonia, são autossuficientes, a sua alimentação, altamente nutritiva, era
como a dos cabeçudos, a água. Estes podiam visitar os animais sempre que
quisessem, podiam passar um dia ou umas férias com eles. Raramente os animais
iam à cidade dos cabeçudos, mas por opção própria , já que preferem o seu
habitat. Mais um vez, brilhante, absolutamente brilhante, assim, todos vivem em
paz, os animais, aqui não são utilizados para diversão como nas touradas, nos
circos, nos jardins zoológicos ou nas caçadas, não são mal tratados nem abandonados
e muito menos usados como forma de distração…fico muito triste pela verdadeira
realidade do planeta onde vivo, onde muitos animais sofrem. Melhor ainda, é o
facto de os cabeçudinhos não necessitarem de matar qualquer tipo de animal para
comer/subsistir. Este espaço é muito semelhante ao pinhal onde eu e o meu amado
Stress costumamos ir. Por momentos, lembrei-me! O Stress, como estará ele? Terá
feito amizade com um cabeçudinho?
Observei também os rios, o mar e os animais
aquáticos. Tudo era limpo, não havia poluição, por isso, tentei saber mais
sobre o assunto. A energia consumida era a água e o calor do astro, e tudo era
feito com esta energia, pelo que a poluição é mínima, uma vez que tudo é
biodegradável. Também tinham transportes aquáticos e facilmente visitavam os
animais marinhos. Nesse aspeto, é muito bom que os seus submarinos e barcos
sejam transparentes, que eram como aquelas bolas de sabão que eu tanto gosto
fazer, só que estas eram uma espécie de bolas de sabão gigantes que nunca rebentavam.
Os cabeçudinhos adoram ir até ao fundo do mar e já descobriram muitas coisas
sobre os mares e os animais que neles habitam e tal como com os outros animais
dão-se muito bem entre si. Vi algumas especiais de animais que conhecia e
outras que não conhecia, tanto terrestres como aquáticos, por isso, decidi
perguntar algumas coisas sobre alguns animais. O que mais me espantou
saber, foi o facto dos cabeçudinhos conseguirem, por exemplo comunicar com os
golfinhos…eu sei que os golfinhos são muito inteligentes, mas nunca pensei que
fosse possível comunicar com eles… segundo entendi os cabeçudinhos tem ido à
terra para aprender sobre o ser humano, a forma como age e se comporta e tudo o
que há para saber sobre nós. Segundo o cabeçudinho, não comunicamos com os
golfinhos porque não estamos preparados para tal, não somos puros o suficiente.
Enquanto a maldade se sobrepuser à bondade não conseguiremos viver em plena
harmonia, nem entre nós nem entre outras espécies. Para além disso vi uma
sereia, é verdade, uma sereia…fiquei de atónito, são seres lindos, com uma
cauda de peixe e uma espécie de corpo humano, mas também não tem sexo, são
verdadeiramente lindas. Também comunicam com os cabeçudinhos…que sortudos! O
cabeçudinho também me explicou que no meu planta também à sereias, que
surpresa!.. quando um cabeçudinho foi investigar os nossos mares rapidamente
conheceu sereias porque ambos são seres puros… As sereias não comunicam com os
seres humanos porque para além de não sermos suficientemente puros, rapidamente
iam ser objetos de estudo, investigadas, mal tratadas e muitas experiências se
iam seguir. Infelizmente acho que o melhor é mesmo elas nunca se mostrarem,
pelo menos por agora…
Quis também saber sobre a política, a
religião e o dinheiro. Entendi que não existia nada disto, o líder mudava num
período de tempo mais ou menos aproximado a um ano no seu planeta e podia ser
qualquer um. Ótimo, não havia corrupção, nem injustiças, o meu pai passa vida a
lamuriar-se com esse assunto, eu bem digo que ele ia adorar viver aqui, no
mundo justo. É fantástico, não haveria todos aqueles dramas que passam na
televisão, não haveria aqueles debates chatos de políticos que tenho de ver em
vez de estar a ver os meus desenhos animados favoritos, porque os meus pais não
me deixam mudar de canal e muito menos haveriam guerras causados pela política.
Em termos religiosos, o cabeçudo nem percebeu bem do que eu estava a falar.
Disse apenas que as coisas que mais gostavam era do planeta, da água, do astro
e deles próprios. Já nem tenho palavras para descrever este lugar, se fosse
assim no planeta Terra ninguém tinha de morrer como tantos morrem pela
religião, se fosse assim no meu planeta não haveria terrorismo, dor, mágoa,
mortes, refugiados ou sofrimento, se fosse assim no meu planeta tudo seria
diferente, não estariam neste momentos milhares de pessoas a morrer à fome em Africa
ou a morrer no Afeganistão. Triste realidade… Quanto ao dinheiro, não havia
necessidade, pois tudo era de todos, bastava querer que o necessário viria até
eles, e com isto não há qualquer tipo de pobreza todos tem aquilo que precisam
sempre!
Perguntei ainda se no passado existiu
algum tipo de guerras, ou criminalidade
de alguma espécie, como eu esperava é obvio que não, armas então, o cabeçudinho
nunca tinha ouvido falar. Bem, nisso posso dizer que somos mais avançados, mas
não sei se é bom ou mau…
Relativamente às estações do ano, são
as mesmas quatro que nós temos, inverno, primavera, verão e outono, adoram
qualquer uma delas. Têm chuva e sol, claro, e gostam de ambas, somos muito
semelhantes nisso. Catástrofes naturais não existem, como tratam tão bem do seu
planeta não há qualquer tipo de poluição nem problemas ambientas nada de mal
lhes acontece. As catástrofes naturais só existem porque são como uma resposta
do nosso planeta a todos os erros/atitudes que temos para com o ambiente, são
alertas para que mudemos a nossos hábitos, mas penso que nós ainda não nos
demos conta disso.
Não pude resistir a perguntar pela
diversão, pelo lazer. Para nós o lazer prende-se, hoje em dia, com o telemóvel,
o computador, os iPod, Tablet ou outros meios eletrónicos, e quase nem
comunicamos uns com outros, eu ainda não tenho nada disso, ou pelo menos pouco
posso usar, porque os meus pais preferem que esteja ao ar livre a brincar, mas
bem vejo a minha irmã que está sempre agarrada ao seu telemóvel nas redes
sociais. Pelo que percebi eles não têm nada disso, que bom, até fico feliz por
eles, nada de Internet, nada de dependências, nada de nada, a minha irmã ia passar-se,
se aqui vivesse. Acho que é uma questão de hábito… Têm vários desportos e
adoram, o cabeçudinho diz que todos praticam desporto para se manterem em
forma, bem, a mim parecem-me todos muito iguais a nível físico. Perguntei-lhe
se sabia o que era futebol ou outros desportos comuns no meu planeta, sim, mais
uma coisa em comum, têm vários desportos semelhantes mas nada lucram com eles,
não é como no nosso planeta em que tudo é um meio para atingir um fim, em que
tudo é impulsionado por interesses! Ele disse-me ainda que adoravam tudo o que
tinha a ver com expressão artística: música, dança, representação, pintura,
escrita. Mas como? - perguntei eu - se nada se ouve? E o som?! Nesse momento
obtive a resposta mais importante de todas, tudo funcionava de uma forma
vibratória e subtil. Eu não ouvia porque os meus sentidos não estavam
preparados para isso, mas eles, os cabeçudos, ouvem e sentem a nossa vibração.
Cada corpo emite um som, uma vibração, uma melodia conforme o nosso estado de
espírito, assim como as árvores e os animais, o mar e os rios e tudo em
conjunto faz uma linda melodia que eles captam, e reproduzem, criando
grandiosos concertos. Fiquei impressionado e pensei no quanto gostaria de levar
alguns destes conhecimentos para o meu amado planeta Terra.
Todo neste planeta é mágico!
Mais tarde, o cabeçudo captou uma mensagem
e disse que nos aguardavam. Diante do “chefe”, foram-me pedidas novamente
desculpas, e foi-me explicado que fui confundido com um cabeçudinho porque
nesse dia eles estavam a fazer análises e investigações no meu planeta,
disse-me ainda que a nave deles apenas poderia entrar na órbita da Terra no
local onde entrei, isto é, no pinhal perto da minha casa, num dia de chuva, com
orvalho e sem lua; logo, para isso, teríamos de aguardar que estas condições
existissem, e todos sabíamos que poderia levar algum tempo. Comecei a ficar
agitado, queria a minha mãe, o meu pai e o Stress. A emoção começou a
apoderar-se de mim, pois sabia que todos estavam preocupados comigo.
Quando, de repente, começo a ouvir uns sons
distorcidos, mas familiares, e começo a sentir uma lixa húmida na minha cara,
dei um salto e abri os olhos. Vejo, então, o Stress em cima da minha cama a
lamber-me a cara, e o meu pai do outro lado do quarto que gritava comigo e
dizia: - Queres um cão, mas não sabes tratar dele e, ainda por cima, vais
chegar atrasado à escola e os teus professores vão fazer queixa de ti por falta
de pontualidade. Olhei para ele e pensei:
-Escola, queixas, professores! Não! Não!
Queda do governo, guerras, atentados, doenças, religião, poder,
intolerância, maus tratos aos animais e discriminação e muito mais…
-
Pai, deixa-me dormir!
Mas tive de voltar e abraçar o mundo
real…, bem-vindo à vida no planeta Terra!
Depois
de me vestir, tomar o pequeno almoço e ir passear com o Stress ao pinhal, (estava
com esperanças de ver algum cabeçudinho, mas não apareceu nenhum), fui para a
escola. Passei o dia todo a pensar nos cabeçudinhos e o quão maravilhoso seria
se aquele mundo existisse e como eu gostava de lá viver. Estive muito distraído
nas aulas até que algo que despertou o interesse, a minha professora de
Português pediu a todos os meninos e meninas da minha turma, para escrever um pequeno
texto de tema livre, foi o momento ideal para contar tudo sobre aquele lindo e
encantador planeta.
A professora gostou muito do meu
texto, por isso pediu que o lesse em voz alta e no final disse que eu tinha
muita criatividade! Os meus colegas até aplaudiram. Quando cheguei a casa,
estava tão feliz com a reação de todos que decidi ler para os meus pais e para
o Stress.
Quando terminei, a minha mãe esboçava um
sorriso, fez-me uma carícia na face e disse-me que era um lindo menino, com
muita imaginação. Imaginação? eu ?...não estou a perceber, não estou nem a
imaginar nem a inventar nada, isto é tudo verdade!
Noutra
galáxia, noutro planeta, lá muito, muito, muito longe existem uns amiguinhos
verdes, não acreditam?
Eles
estão bem perto de nós e são nossos amigos, apenas querem ajudar-nos a
respeitar a vida na terra, eles são muito especiais.
Se olharem
bem à vossa volta, vão vê-los, não tenham receio, são fáceis de identificar, são
verdes, pequeninos e muito cabeçudos!
Tenho a certeza que vocês vão conseguir vê-los
e assim poderemos dar as mãos e tornarmo-nos os guardiões do nosso planeta azul,
o que acham?!
Há
coisas que só as crianças conseguem ver e fazer!
Essa
será a nossa demanda, aceitam?
Os
sonhos só são sonhos quando acreditarmos neles, agora entendo bem isso!
Carolina Figueiras
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