Todos os dias são diferentes numa escola, mas há coisas que
nunca mudam, como o rodopio nos corredores, os sorrisos, os desabafos sobre as
aulas, a quantidade de matéria para estudar e as trocas de olhares com amigos.
Enfim, tudo o que nos deixa felizes, alegres e, ao mesmo tempo, aborrecidos e
cansados.
Contudo aquele foi um dia diferente. O burburinho era sobre
três colegas, a Daniela e a Joana, do 11.º ano, e o Rodrigo, do 12.º ano.
Pelo que percebi, a Joana disponibilizou-se para ajudar a
Daniela a colocar umas fotos no facebook e, porque eram muito amigas, a Daniela
deu-lhe a sua palavra passe e nunca mais pensou no assunto, podia tê-la mudado
logo a seguir, mas… confiava na Joana. Partilhavam tudo uma com a outra, até
mesmo os pormenores entre o namoro da Daniela e do Rodrigo.
A descoberta de alguns momentos mais íntimos entre o
namorado e a amiga deixou a Daniela fora de si, por isso teve uma grande briga
com a melhor amiga, acabando assim uma amizade, mas o pior veio a seguir… A
Joana não gostou do que ouviu da parte da Daniela, pelo que resolveu vingar-se
utilizando a palavra passe da amiga para assim colocar fotografias pouco
abonatórias e com linguagem pouco adequada no mural do Rodrigo como se tivesse
sido a Daniela. Como é óbvio, o Rodrigo, além de não ter achado piada nenhuma à
foto, não acreditou na namorada depois de esta lhe ter dito que nada tinha a
ver com o assunto.
A escola estava ao rubro com este assunto, era o tema do
dia, parecia dia de eleições: a lista A defendia a Daniela, a rapariga inocente
que confiou na amiga; a lista B defendia o coitado do rapaz que estava rodeado
de raparigas imaturas; e, por fim, a Lista C, constituída pelos apoiantes da
Joana, que achava que esta tinha estado muito bem, pois a Daniela não devia ter
gritado com a amiga.
A confusão estava instalada, cada um puxava por um dos
intervenientes, a confusão já era tanta que a diretora resolveu intervir.
Assim, foi comunicado às salas que, no dia seguinte, na hora do intervalo
grande, os alunos deveriam ir todos para o átrio da escola porque a diretora
lhes iria falar.
No dia seguinte, a diretora iniciou a conversa agradecendo
a presença de todos e, porque era uma senhora muito frontal, colocou uma
questão aos alunos:
- Qual de vós empresta a sua escova de dentes aos amigos
que passam pelas vossas casas?
Ninguém abriu a boca e nem se mexeu.
- Queria-me parecer que ninguém… - continuou a diretora.
-Assim, devemos fazer com as palavras-passe de
qualquer aplicação que tenhamos na Internet; são coisas pessoais, por isso
não podem nem devem ser emprestadas a ninguém e, ainda assim, devem ser mudadas
com regularidade. Este é um assunto pessoal de três alunos e três famílias e
hoje é tema de conversa de uma escola, devemos aprender com os erros dos
outros, por isso quis intervir para que vos sirva de lição e, porque somos
amigos dos três, agradeço que a conversa acabe por aqui.
A nossa diretora era simpática, afável e muito generosa,
mas quando tinha de ser incisiva também o sabia ser.
Para finalizar, pediu para falar com os três alunos em
particular. Pelo que soube, falou primeiro individualmente com cada um deles,
depois com os três. A conversa parece ter surtido efeito, pois, apesar da
amizade nunca mais ter sido a mesma, nunca mais houve conflitos.
Felizmente o burburinho também acabou, a diretora fez a
coisa certa no momento certo.
Eu fiquei até hoje a pensar na escova de dentes e no
paralelismo usado pela diretora da escola, por isso passo esta mensagem.
Há coisas que são nossas, são pessoais e não devem ser dadas
a ninguém, depois existem conteúdos que hoje podem parecer inofensivos, mas
que, passados anos, poderão provocar consequências nas nossas vidas… Devemos,
pois, ter prudência quando publicamos ou partilhamos coisas nas redes sociais.
Carolina Figueiras
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