Autorretratarmo-nos é como se vivêssemos sem proteção e, na
sociedade atual, é muito difícil; no entanto há um autorretrato que se encaixa
sempre bem, digamos que é a máscara socialmente aceite….
Na verdade, vivemos numa sociedade preconceituosa. Por isso,
aprendemos a sobreviver e a defender-nos, negando aquilo que somos e
evidenciando qualidades que nunca existiram em nós, mas sabendo que essas
qualidades são bem aceites.
Com efeito, fazer o autorretrato físico é fácil, não podemos
negar o nosso aspeto. Então dizemos: sou alta, sou morena, tenho olhos azuis e cabelo
preto, sou nariguda, tenho orelhas grandes…. Tal como na história do Capuchinho
Vermelho, facilmente descobrimos pela informação dada que na frente do
capuchinho está o lobo mau e não a sua avozinha.
O problema surge quando o autorretrato pretende decifrar
aquilo que eu sou, aquilo que eu desejo, por outras palavras, a minha essência…
Como se pode falar sobre isto numa sociedade como a nossa, onde todos se sentem
no direito de opinar, criticar e julgar!?
Fácil, vivendo num mundo do faz-de-conta, razão pela qual apenas
se diz aquilo que o outro quer ouvir, aos pais dizemos: “Eu sou muito verdadeira,
eu nunca minto”; aos amigos e colegas: “eu guardo segredo, podes contar, podes
desabafar…”; aos professores: “eu estudo muito, eu faço os trabalhos de casa
todos”, e à sociedade “eu não sou corrupto, eu protejo a natureza, eu ajudo os
necessitados, eu aceito a diferença eu sou muito trabalhadora!” …
Este é o autorretrato que encaixa sempre bem.
O problema são as atitudes e os comportamentos e aí nada se encaixa com o
autorretrato que fazemos de nós próprios. Assim, “não bate a bota com a
perdigota”.
O que fazer? Talvez encarnar o papel do Capuchinho Vermelho
e não se deixar enganar pela voz melosa do lobo mau, … esse é o maior desafio!
Descobrir o que está para além das aparências, pois sabemos bem que não é
apenas no Carnaval que se usam máscaras!
Carolina Figueiras
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